O governo americano anunciou que a partir de 1º de fevereiro serão impostas tarifas comerciais sobre produtos de seus três principais parceiros comerciais: China, Canadá e México. Os produtos da China sofrerão uma tarifa de 10% e os oriundos de Canadá e México 25%. O motivo principal por trás da imposição dessas tarifas é o contrabando de fentanyl oriundo da China, um opioide responsável pelo aumento de pessoas com problemas de vício nos Estados Unidos. Já Canadá e México são considerados responsáveis pela grande entrada de imigrantes ilegais e de fentanyl nos Estados Unidos através dessas fronteiras. A imposição de tarifas comerciais já era anunciada por Donald Trump desde a campanha. Apesar da ausência de uma imposição de tarifas imediatamente logo após sua posse, a expectativa é que as tarifas comerciais sejam frequentemente utilizadas pelo presidente americano.
A medida deixa claro que o presidente Trump utilizará tarifas comerciais como meio de persuasão e em alguma medida coerção para alcançar seus objetivos políticos. Os Estados Unidos sempre utilizaram o acesso a seu mercado como moeda de barganha na política internacional, oferecendo menores ou maiores tarifas em troca de concessões em diversas áreas. Contudo, agora essas tarifas passam a ser impostas de forma clara com o objetivo de dobrar os parceiros americanos à vontade do presidente Trump. Além disso, o percentual significativo utilizado tem como objetivo claro tornar proibitivas as importações dos países alvo. Durante sua campanha, Trump ameaçou impor tarifas de até 100% sobre produtos dos países BRICS se estes criassem uma moeda própria ou continuassem atuando para diminuir a centralidade do dólar na economia internacional.
Além disso, a medida deixa claro que os Estados Unidos não são mais os campeões do livre comércio. O volume e os fluxos de comércio internacional tiveram aumento significativo após a Segunda Mundial como fruto de um movimento de liberalização multilateral do comércio liderado pelos Estados Unidos. Movimento que num primeiro momento resultou no Acordo Geral de Tarifas e Comércio, o GATT do inglês, e o Acordo Geral de Tarifas em Serviços, o GATT. As rodadas de negociação para liberalização do comércio internacional promovidas por esses acordos resultaram na criação da Organização Mundial do Comércio em 1995. Nesse período, a redução progressiva de tarifas comerciais permitiu o aumento do volume de comércio e a diversificação dos atores participantes do comércio internacional, principalmente a partir dos anos 1990, quando os países em desenvolvimento passaram a representar um percentual cada vez mais importante dos fluxos de comércio internacional.
A liberalização multilateral do comércio é fator importante da prosperidade econômicas dos Estados Unidos nesse período, afinal a remoção de tarifas abriu novos mercados para os bens e serviços americanos, também permitiu a especialização da economia do país em produtos de maior valor agregado enquanto a produção de bens primários e de menor valor agregado foram transferidas para outros países. O mesmo processo também foi fator importante no desenvolvimento econômico da China, principalmente a partir de 1979 após as reformas econômicas. O engajamento da China com a economia internacional permitiu o país se tornar a segunda maior economia do mundo em quatro décadas.
O rompimento do compromisso com a promoção do livre comércio é uma ruptura com o papel de liderança que os Estados Unidos sempre ocuparam nessa área na política internacional e mostra que a economia dominante não acredita mais no livre comércio como fonte de prosperidade econômica. A imposição de tarifas vai gerar cada vez mais distorções de comércio e terá impactos negativos para economias de diversos países, inclusive para os Estados Unidos. É certo que os parceiros que sofrerem a imposição de tarifas retaliarão com mais tarifas comerciais causando ainda mais distorções no comércio internacional.
Nesse momento, o Brasil ainda não é um dos alvos da imposição de tarifas do governo Trump, o que pode criar oportunidades de acesso ao mercado americano para alguns setores como a exportação de aço, frutas, legumes e vegetais, por exemplo, que foram alvo das tarifas impostas ao México e ao Canadá. Ainda não é claro se essas tarifas afetarão a importação de petróleo desses países também. Em caso afirmativo, também criaria oportunidades para o Brasil nesse setor. Contudo, fica o alerta de que tarifas comerciais serão utilizadas de forma indiscriminada pelo governo Trump para alcançar seus objetivos. Para o Brasil, a imposição de tarifas comerciais terá impactos negativos para diversos setores uma vez que os Estados Unidos são o segundo principal parceiro comercial do país.
Por: Fernanda Brandão, coordenadora de Relações Internacionais da Faculdade Mackenzie Rio
Fonte: Isabel Rizzo
Clique abaixo e veja também
Proteção Anti DDOS. Para seu website
Servidor dedicado no Brasil. Personalizado conforme você precise.
Servidor VPS no Brasil. Personalizado conforme você precise.
Hospedagem compartilhada para seus projetos online
Hospedagem Claud para seus projetos online